Agroextrativismo: Valoração da Floresta em Pé

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O modelo predatório na Amazônia ao longo do tempo motivou inúmeros cenários de conflitos de terra, de desmatamento, de exploração dos bens naturais, do trabalho escravo e de muito sangue derramado dos defensores da floresta. Assegurar desenvolvimento com sustentabilidade para essa região é mais que um desafio, deve ser uma escolha nossa de todos os dias. O que implica um reconhecimento deste chão, de seus povos e saberes, e muita, muita luta! O agroextrativismo é um modelo socioambiental da valoração da Floresta em pé que pode ser o caminho para a sustentabilidade tão sonhada.

A Amazônia é uma grande potência e desde o século XVII os colonizadores já se lançavam interessados para conquistar e ocupar a Amazônia. Alguns países estudavam a livre navegação dos rios amazônicos para escoar as riquezas que subtraíam de nossas terras na tentativa de comercializá-las fora daqui e enriquecer. A cobiça internacional em séculos estimulou e continua a estimular um modelo econômico no Brasil que olha a Amazônia como uma fonte de recurso inesgotável e que pode ser devastada e espoliada para servir aos grandes interesses do capital.

Somado a isso esteve também a ineficácia de uma legislação ambiental brasileira que durante muito tempo nem tipificava à biopirataria como ilícito criminal, apenas a tipificava de ordem administrativa, ou seja, com aplicação de multas brandas aos infratores. O que não combatia de forma concreta a biopirataria, e mesmo após a promulgação da Lei da Biodiversidade Nº 13.123/2015, o caráter genérico e aberto deste tema na legislação ainda era percebido.

Em 2016, a questão da biopirataria melhorou um pouco com o advento do Decreto Federal 8.972, no qual foi considerado de maneira mais direta práticas e penalidade que concerniam à conduta de biopirataria. Pois, a falta de instrumentos legislativos de respaldo era danosa à biodiversidade da Amazônia que atraía contrabandos de flora e animais silvestres, matéria-prima e uso de patentes de conhecimentos tradicionais. A flexibilização e desregulamentação de leis ambientais no Brasil também não contribuíram com o cuidado da nossa biodiversidade. O modelo predatório opera por aqui com muita força.

Mas, na Amazônia, os povos tradicionais resistem e demostram que modelos sustentáveis também fazem parte deste cenário. É o caso do agroextrativismo que tem sido uma estratégia econômica de sustentabilidade na produção familiar. A floresta em pé tem dado muitos resultados positivos para diversas famílias nativas. A Capacidade produtiva incorpora produção de fitoterápicos e fitocosméticos manejadas por cooperativas, associações e grupos. Este modelo tem um potencial econômico enorme no cenário mundial, uma vez que movimenta 50 bilhões de dólares anualmente e já se percebe mais rentável que o modelo predatório.

Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas, a ONU, 80% da população mundial consome remédios à base de ervas e plantas medicinais e de acordo com dados da empresa de pesquisas Euromonitor International, as vendas do setor de produtos de beleza e cuidados pessoais (Os fitocosméticos) no Brasil alcançaram R$ 109,7 bilhões de reais, só em 2018, uma alta real de 1,53% neste setor. O que isso significa? Que o mercado de fitoterápicos e fitocomésticos continua em expansão.

E sabe o que mais? Uma grande parte desses produtos são feitos com matéria-prima da Amazônia e boa parte dos comercializados só são encontrados nela. Da floresta não veem só produtos vem a essência das populações tradicionais, os saberes do manejo, como por exemplo: a extração do óleo da andiroba de forma artesanal, o cozimento certo das sementes, a identificação das árvores para extração etc.

Em Nova Ipixuna, no Assentamento Praialta Piranheira, no sudeste do Pará, temos como exemplo o Grupo de Trabalhadoras Artesanais e Extrativistas – GTAE. Um grupo de mulheres que por meio dos seus saberes ancestrais cuidam do bioma Amazônia, garantem a sua autonomia financeira e lutam pela floresta em pé.

É preciso respirar fundo para entender a profundidade desta história. Em meio a tantas lutas e sangue derramado, o GTAE nos alimenta e nos move a continuar firmemente acreditando que a Floresta em Pé é a essência da vida no território amazônico. Maria do Espírito Santo, presente na caminhada! José Cláudio da Silva, presente na caminhada!

Ana Lúcia Farias