Comunidades do Centro Antigo de Salvador
enfrentam a pandemia
Temos enorme preocupação com o impacto que o coronavírus pode ter nas comunidades do Centro Antigo e de toda a periferia de Salvador, comunidades de maioria negra vivendo em condições precárias. Essa é uma doença séria, que está assustando a todas as pessoas e com razão.
A maioria de nós ainda sai para trabalhar, para garantir comida na mesa, o que coloca nossas famílias e vizinhança em risco, mas como em grande parte vivemos do comércio informal, com as ruas vazias, não estamos conseguindo fazer nossa renda. E mesmo ficar em casa para nós nem sempre é garantia de segurança, porque nossos bairros não tem coleta de esgoto adequada, o abastecimento de água nem sempre é regular e manter a casa ventilada e iluminada para muitos é um luxo. E como se não bastasse, os índices de violência doméstica contra as mulheres estão crescendo de forma assustadora durante o isolamento social.
Tudo isso é resultado da falta de investimento público em moradia, saneamento básico, assistência social e em geração de emprego e renda para o povo negro, que ocupa e dá vida à nossa cidade. Precisamos de investimentos imediatos nessas áreas e que, depois dessa crise, esses investimentos sejam estruturantes das gestões públicas.
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É MOMENTO DE NOS CUIDAR
O risco de contaminação pelo coronavírus é real e precisamos nos cuidar nesse momento tão delicado. Precisamos dar apoio às pessoas mais velhas para evitar que saiam de casa e se exponham mais ao risco de contaminação. Vamos dividir responsabilidades com as tarefas domésticas, com os cuidados com as crianças e com idosos, que quase sempre ficam nas costas das mulheres, e principalmente das mulheres negras. Nós mulheres estamos sendo mais infectadas do que os homens porque cuidamos de todos e não contamos com o apoio necessário para também nos cuidar.
Todo mundo precisa cuidar da higiene, é coisa séria! Precisa lavar as mãos com água e sabão com mais frequência ou toda vez que sair de casa, limpar tudo que vem da rua com álcool líquido 70% ou água sanitária diluída em água e, quando voltar da rua, separar e limpar os sapatos e botar as roupas para lavar. A água é fundamental na higiene, então é importante ficar atento para cobrar dos governos a regularidade do serviço de água em comunidades vulneráveis do centro e da periferia.
Quem pode, fica em casa, quem não pode, tem que cuidar para não trazer o vírus para dentro de casa nem pra vizinhança. Estamos nos articulando para garantir doações para que mais pessoas possam ficar em casa, mas, ainda assim, todo mundo tem que fazer a sua parte!
Enquanto isso, se você pode, é importante ficar em casa, para evitar que todo mundo se contamine ao mesmo tempo e nossos hospitais não fiquem mais cheios do que já estão. Tome também os cuidados com a higiene das mãos e da casa. Lavar as mãos e objetos com água e sabão e usar água sanitária ou álcool para limpar a casa e objetos faz toda a diferença!
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ESTÁ NA HORA DE DISTRIBUIR RIQUEZA E SOLIDARIEDADE
Diante da falta de trabalho e de rendimento das nossas famílias, temos nos organizado em redes de solidariedade para garantir o mínimo para a sobrevivência do nosso povo nesse momento de tantas incertezas e privações. Algumas campanhas para arrecadação de alimentos e material de limpeza já estão acontecendo e as doações tem aliviado nosso sofrimento, mas tudo isso é só um paliativo, não vai pagar nossas contas de luz, nosso aluguel etc.
E para além das doações, é preciso lutar para garantir condições dignas a todas as pessoas nesse momento de pandemia. A Renda Básica Emergencial, aprovada pelo Senado, contribuirá para isso e precisamos que o Governo Federal seja ágil para colocá-la em prática. Isso nos preocupa muito, pois esse governo já demonstrou não se importar com o povo, mas apenas com a economia.
É preciso ampliar espaços para cadastrar famílias no CadÚnico e para entrega do benefício, pois tem muita gente fora do cadastro e sem conta bancária. Outra fonte de recursos para esse momento e para o futuro é a taxação das grandes fortunas. Por que tão poucos têm tanto dinheiro e muitos não têm nenhum?
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EM DEFESA DO SUS E DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE ENFRENTAMENTO AO RACISMO E ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS
O Sistema Único de Saúde (SUS)garante o direito à saúde integral e pública a todas as pessoas, mas a falta histórica de maior investimento público nesse setor atinge sua qualidade em muitas situações, em especial para os mais pobres. Desde 2017, com a aprovação da PEC do Teto dos Gastos Públicos, os investimentos em políticas públicas de saúde, assistência social, saneamento básico e outros foram deixados de lado em nome da falácia do crescimento econômico e agora, quando mais precisamos do SUS para superar o coronavírus, ele está sendo cada vez mais sucateado.
O aumento da procura por postos de saúde e internação de casos graves vai ser maior do que o número de vagas e leitos de hospitais. As famílias com parentes contaminados também vão precisar de orientações e assistência para seu próprio cuidado e para diminuir o contágio das pessoas nos seus bairros. E temos ainda profissionais da saúde que precisam de mais equipamentos de proteção. E essa é uma responsabilidade dos poderes públicos. É preciso revogar já a PEC do Teto dos Gastos e direcionar, com urgência, recursos públicos para as áreas essenciais à vida das pessoas na cidade. Também é importante defender o SUS e melhores investimentos para garantir o direito à saúde pública de qualidade.Caso contrário, o impacto sobre a população pobre e negra será enorme, um verdadeiro genocídio.
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