A faixa estava aberta no alto, ligando um lado ao outro da estreita estrada de chão: ‘Mulheres e Homens Terra’. Sentados no meio da estrada, jovens meninas e jovens meninos, distantes uns dos outros por dois ou três metros, alimentavam plantas com terra, como se as estivessem plantando, olhar feliz, com todo amor e alegria. Romeiras e romeiros olhavam admirados, felizes com seu cuidado amoroso e terno, e diziam: ‘Bom Dia, que Deus abençoe vocês’.
A cena acima aconteceu na Romaria da Terra, 13 de fevereiro, terça de carnaval, em Mampituba, Rio Grande do Sul, na caminhada de mais de dois quilômetros entre o ponto de chegada, a Vila Broca, até o ponto de chegada, a Comunidade Rio de Dentro, com o tema ‘MULHERES TERRA – Resistência, Cuidado e Diversidade’. Diz o texto de apresentação da Romaria: “Comunidade Rio de Dentro, Mampituba. É uma comunidade no interior do município de Mampituba, parte da Paróquia Senhor Bom Jesus, organizada como ‘Rede de Comunidades’. Praticamente comunidades do interior, agrícolas, onde predominam os cultivos de bananas, maracujá, arroz, hortifrutigranjeiros. Uma história de pequenas/os agricultoras/es que resistiram e persistiram num jeito mais ecológico e integral de plantar e produzir. As comunidades eclesiais tiveram um forte sinal profético de organizar, mobilizar e garantir os direitos das/dos agricultoras/es em época de migração para as cidades.”
Escreveu Dom Jaime Pedro Kohl, bispo de Osório, diocese da Romaria/2018:
“A agricultura familiar, em muitos casos ecológica, é a marca da nossa região. As mulheres nos ensinam o cuidado que devemos ter com a biodiversidade, o respeito pela vida nas suas várias formas e a resistência quando se trata da preservação da Casa Comum e dos valores cristãos como a vida e a família. Elas não têm receio de manusear a terra porque sabem que ela dá a comida limpa e bela para matar a fome dos outros frutos do seu ventre.”
Leonardo Boff, na Cartilha de Apresentação da Romaria, em ‘Homens e Mulheres: novas relações criativas’, diz:
“O primeiro a se fazer é privilegiar os laços de interação mútua e a cooperação igualitária entre homem e mulher. Aqui se impõe um processo pedagógico na linha de Paulo Freire: ninguém liberta ninguém, mas juntos, homens e mulheres, se libertarão num exercício partilhado de liberdade criadora. A partir deste novo contexto devem-se recuperar aqueles valores considerados antigos e próprios da socialização feminina, mas que agora devem ser gritados aos ouvidos dos homens e junto com as mulheres procurar vivê-los. Trata-se de um ideal humanitário para ambos. Permito-me resgatar alguns:
- – As pessoas são mais importantes que as coisas. Cada pessoa deve ser tratada humanamente e com respeito;
- – A violência jamais é um caminho aceitável para a solução dos problemas;
- – É melhor ajudar do que explorar as pessoas, dando atenção especial aos pobres, aos excluídos e às crianças;
- – A cooperação, a parceria e a partilha são preferíveis à concorrência, à autoafirmação e ao conflito;
- – Nas decisões que afetam a todos, cada pessoa tem o direito de dizer a sua palavra e ajudar na decisão coletiva;
- – Estar profundamente convencido de que o certo está do lado da justiça, da solidariedade e do amor e de que a dominação, a exploração e a opressão estão do lado errado.”
A vigésima quinta FEICOOP, Feira Internacional Jubilar do Cooperativismo, também Terceiro Fórum Mundial Temático de ECOSOL (Economia Solidaria) e Terceira Feira Mundial de ECOSOL, Comemoração dos 10 anos do Fórum Mundial de Educação e a Décima Quarta Caminhada Mundial Ecumênica pela PAZ e Justiça Social, tem como tema ‘CONSTRUINDO A SOCIEDADE DO BEM VIVER: POR UMA ÉTICA PLANETÁRIA’. A FEICOOP acontec[e] em Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil, de 12 a 15 de julho de 2018, no Centro de Referência de Economia Solidária Dom Ivo Lorscheiter (Ver em projeto@esperancacooesperanca.org.br; www.esperancacooesperanca.org; www.facebook.com/feicoop/).
Diz o folder de apresentação da vigésima quinta FEICOOP:
“Esta edição do Fórum e da Feira visa afirmar a nível mundial a Economia Solidária como uma estratégia de Desenvolvimento Solidário, Sustentável e Territorial. É uma grande oportunidade mundial de promover, fortalecer, difundir e ampliar este modelo de Desenvolvimento Solidário, Sustentável, Coletivo e Popular, integrando a Democracia Participativa, Política, Econômica, Social e Ambiental, com enfoque nas questões de gênero, a diversidade cultural e étnica. Articula-se com as Organizações sociais, solidárias, Movimentos, Pastorais, gestores públicos, povos indígenas, quilombolas, catadoras/es, organizações do campo e da cidade, consumidores, com a certeza de que ‘um outro mundo é possível’ e ‘uma outra economia já acontece’. É preciso tornar visível a nível mundial a sua proposta de desenvolvimento econômico sustentável, dentro dos parâmetros do Bem Viver, da Agroecologia, do respeito à cultura e tradição dos povos tradicionais. Estamos inspirados nas sábias palavras do Papa Francisco: ‘Nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra e nenhum trabalhador sem direitos’.” E ‘nenhum direito a menos’.
A Romaria da Terra/2018, com destaque para as Mulheres Terra e sua Resistência, Cuidado e Diversidade, dialoga, está em sintonia com a Feira Internacional de Economia Solidária/2018, que quer construir uma sociedade do Bem Viver, com uma ética planetária. Mulheres e Homens Terra unem-se a jovens, indígenas, quilombolas, camponesas/es, trabalhadoras/es em geral para dizer, nas palavras de Sepé Tiaraju, ‘Alto lá! Esta terra tem dono!’ E gritar que suas donas e donos, as ‘donas e donos desta terra’ estão do lado da solidariedade, da justiça e da paz. O Brasil, a América Latina, o Caribe, a África e o mundo precisam, de novo e sempre, dizer, nestes tempos onde a democracia está ameaçada, a intolerância, o individualismo, a desigualdade e o preconceito avançam, que um outro mundo é possível, urgente e necessário, assim como uma outra economia acontece.
A vigésima quinta FEICOOP, Feira Internacional Jubilar do Cooperativismo, convida todas e todos a marcarem presença em Santa Maria, de 12 a 15 de julho. E convoca todas e todos, a começar pelas jovens meninas e os jovens meninos, a se unirem a seu grito e decisão coletiva de, com uma Economia Solidária, construírem uma sociedade do Bem Viver com ética planetária.