O último Diálogos de Justiça e Paz de 2025 foi realizado na segunda-feira, 1º de dezembro, reunindo pesquisadores, movimentos sociais e representantes de instituições parceiras para refletir sobre “Direitos Humanos: caminhos percorridos, cenários atuais e reverberações após a COP-30”. O evento ocorreu presencialmente no auditório do Centro Cultural de Brasília (CCB) e foi transmitido ao vivo pelos canais do OLMA – Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida – e da Comissão Justiça e Paz de Brasília. 
A mediação ficou a cargo de Ana Paula Inglez, presidenta da Comissão de Justiça e Paz de Brasília, que destacou a importância do espaço como ponto de encontro entre instituições comprometidas com a justiça socioambiental. Ana ressaltou ainda o impacto da mobilização popular durante a COP-30, especialmente na Cúpula dos Povos. “Vimos um movimento social que se organizou de forma
independente e deu seu recado. As respostas dos povos indígenas e das lutas populares mostram um cenário vivo e mobilizado”, afirmou.
A mesa de debate, composta por Ayala Ferreira, educadora popular do MST; Manoel Moraes, doutor em Direito e cientista político; e Ivo Poletto, filósofo, teólogo e cientista social, trouxe análises profundas sobre o contexto socioambiental, político e democrático contemporâneo, especialmente diante dos limites revelados pelas negociações internacionais do clima e pelas tensões humanitárias que marcam o cenário global.
Ayala apresentou a experiência dos movimentos sociais nas pautas de trabalho, moradia e direito à terra. Relatou o encontro entre representantes dos movimentos populares e o Papa Leão, destacando a mensagem recebida: “A luta por trabalho digno, vida digna e acesso à terra são direitos sagrados. A Igreja está com vocês.” Ela também traçou um panorama da participação popular na Cúpula dos Povos, realizada paralelamente à COP-30 em Belém, reunindo mais de 1.300 organizações de mais de 60 países. Ao mencionar a marcha pelo clima, que mobilizou cerca de 70 mil pessoas, reforçou o sentimento coletivo diante da urgência climática. “Não podemos aceitar falsas soluções das estruturas capitalistas. A COP-30 foi marcada pelo protagonismo dos movimentos sociais”, sintetizou.
Em seguida, Manoel Moraes trouxe reflexões críticas sobre a crise democrática e socioambiental. Seu discurso abordou a insuficiência das soluções apresentadas por governos e grandes corporações. “Soluções capitalistas não resolvem um problema criado pelo próprio capitalismo”, afirmou. O pesquisador alertou para o crescimento do fascismo no Brasil e no mundo, a criminalização da sociedade civil e a fragilidade das democracias diante das ameaças autoritárias. “Quando a humanidade não tem espaço, a democracia é a primeira vítima. O fascismo é exatamente a negação da diversidade”, destacou. Moraes também apontou a necessidade de mecanismos robustos contra ações antidemocráticas e defendeu a Economia de Francisco como horizonte ético diante da crise.
A discussão avançou também sobre o reconhecimento dos Direitos da Natureza, ponto que ganhou força em países como Colômbia, Peru e Chile. Segundo os participantes, essas mudanças são fruto direto da atuação política dos povos indígenas, que vêm trazendo novas visões sobre território, vida e sustentabilidade. “O reconhecimento da natureza como sujeito de direitos nasce quando eles decidiram não ficar mais calados”, destacou Ivo Poletto, reforçando que os avanços mais significativos ocorrem em países com forte presença indígena e abertura para processos constituintes. Foi mencionada ainda a necessidade de o

Brasil compreender a Amazônia como bioma único e dialogar com experiências jurídicas que vêm ganhando força no continente.
Inspirado pelo legado de Dom Helder Câmara, o encontro também refletiu sobre os direitos humanos como um projeto de sociedade, e não apenas como um sistema jurídico. Foram recuperadas histórias do arcebispo e sua atuação durante momentos de crise, como as enchentes de 1975 em Pernambuco, quando ele exigiu que recursos públicos fossem distribuídos de maneira ecumênica a todas as comunidades religiosas. A lembrança reforçou a compreensão de que a defesa dos direitos humanos exige compromisso ético, capacidade de diálogo e atuação concreta na realidade das populações vulneráveis.
O encontro encerrou reafirmando a importância do Diálogos de Justiça e Paz como um espaço permanente de reflexão crítica e articulação entre sociedade civil, movimentos sociais, academia e instituições religiosas.
As atividades retornam em fevereiro de 2026, mantendo o formato híbrido e fortalecendo a missão de promover debates amplos e relevantes para a sociedade, abordando temas atuais e urgentes que atravessam a justiça socioambiental, a democracia, os direitos humanos e outros desafios do nosso tempo.