“Memória e Narrativa: história de vida e história do lugar” foi o tema do I Módulo do Curso de Formação em Educação Popular, promovido pelo Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental – SARES em articulação com o projeto comum de Educação Popular do Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida – OLMA. O evento tinha como objetivo aprofundar o trabalho de articulação, sensibilização e formação de educadores populares (parceiros e interfaces) ligados às obras que fazem parte da Rede de Promoção e Justiça Socioambiental da Província dos Jesuítas do Brasil. O curso ocorreu neste sábado (27), no Auditório do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados – SJMR, em Manaus – AM, e contou com a participação de 25 educadores populares.
Na abertura da atividade foi proposta uma mística de sensibilização temática realizada pelo grupo de teatro Alegriah. Por meio da contação de história, o grupo suscitava nos participantes um resgate profundo de suas narrativas pessoais nos aspectos do ser pessoa e a influência da família na trajetória de vida. Além disso, focou na memória dos sonhos internalizados e os medos como estados emocionais inerentes ao ser humano que experimenta a busca pelo sentido da vida.
De acordo com o Pe. Adriano Luís Hahn, SJ, da equipe organizadora do evento, responsável pela introdução do tema, a pedagogia de Paulo Freire foi o horizonte da ação e promoção do curso. “Paulo Freire propõe a pedagogia contextual para os educadores. O que significa que você parte primeiro do contexto pessoal, ou seja, da vida das pessoas e a partir daí é que você pensa todas as metodologias e tudo que pode trabalhar para favorecer a experiência do indivíduo dentro de um processo.”
Nesse sentido, os participantes foram convidados a um tempo de reflexão pessoal. No primeiro momento estimulados pelas seguintes perguntas: Quem sou eu enquanto ser humano, isto é, meu modo de ser, sentir, pensar e atuar? Como estou construindo a minha história de sujeito (autonomia)? Depois, refletiram sobre suas raízes familiares, comunitárias e amazônicas. Em seguida partilharam nos grupos o refletido e, resguardando os casos particulares, fizeram uma síntese da aprendizagem coletiva. Pois, segundo Paulo Freire “testemunhar a abertura aos outros, a disponibilidade curiosa à vida, a seus desafios, são saberes necessários à prática educativa” (Livro Pedagogia da autonomia, 1996).
Para o Pe. Adriano, a atividade é importante para fortalecer as bases metodológicas dos processos educativos do SARES e dos seus parceiros, uma vez que “a educação popular é algo transversal”. Ele afirma ainda que “é a maneira do fazer no dia a dia, de você trabalhar as propostas educativas de qualquer projeto, de construí-los… E que não deve acontecer sem a participação coletiva.”
Com esse pensamento, a equipe do SARES convidou a professora de pedagogia (aposentada pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM), Lucíola Inês Pessoa Cavalcante, para construir junto com a equipe a metodologia do curso de educação popular. Lucíola possui pós-doutorado em educação e tem larga experiência na área da práxis do educador. Além disso, é membro do Serviço Inaciano de Espiritualidade – SIES.
Para os educadores presentes no evento, a professora enfatizou em suas palavras que “a educação deve sempre ser uma experiência de libertação, em ser mais, em procurar fazer do mundo um espaço melhor, no qual aprendemos uns com os outros e que esse caminho não se pode fazer só, se não juntos.”
No encerramento da atividade foram realizadas as apresentações artísticas desenvolvidas pelos participantes durante o curso, com paródias de empoderamento e autonomia do sujeito, além de uma ciranda de solidariedade.
Confira a produção de um trecho da paródia da Música Asa Branca de Luiz Gonzaga:
Eu falei, eu escutei e minha história pude contar
Eu falei, eu escutei e minha história pude cantar.
Escutei meus companheiros que falavam das ações
Educação, transformação, caminhando em comunhão.
Um encontro solidário, de partilha popular,
É ensinando que se aprende e se aprende ao ensinar.
Nossas raízes são fincadas, nesta terra e neste chão,
Pois, Paulo Freire nos ensinou, que não se educa sem ter amor.