ADOLESCENTES RIBEIRINHOS DO PARÁ E AMAPÁ PARTICIPAM DE FORMAÇÃO GUARDIÕES DA FLORESTA SOBRE EDUCOMUNICAÇÃO E NATUREZA

 

Na abertura da semana Laudato Si, às margens do Furo dos Chagas, entre os rios Maniva e Corredor afluentes do Amazonas no Pará, arquipélago do Marajó no município de Afuá, aconteceu o segundo módulo do curso de Guardiões Ambientais Ribeirinhas 2022. A quadra do Instituto Educacional Amapá Pará (IEAP), toda construída em madeira regional, uniu mais de 50 pessoas nos dias 21 e 22 maio. Entre as participações estavam jovens cursistas, estudantes do ensino médio, universitários, professores, lideranças comunitárias e voluntários que conversaram e vivenciaram uma série de atividades sobre o tema educomunicação e meio ambiente.

Educomunicação e bem viver foi o tema orientador de mais uma etapa de formação da terceira turma do projeto Guardiões. O jornalista e professor Oscar Filho, assessor da Pastoral da Comunicação (Pascom) da Diocese de Macapá, contribuiu com a mediação e animação do encontro, junto com o músico ribeirinho e professor de violão Edécio.

“Ribeirinhos guardiões, da nossa casa comum, Laudato Si é Francisco chamando um a um”. Este refrão em comunhão com a abertura da Semana Laudato Si, da música composta por Antônio Cardoso que embalou o Sínodo da Amazônia, mais uma vez ecoou na floresta, em rios, igarapés e comunidades vizinhas ao IEAP, atualizando e celebrando sete anos de publicação de um documento que orienta, ilumina e fundamenta as ações e atitudes na foz do Rio Amazonas.

Após viajarem algumas horas em canoas, lanchas, catraios, rabetas e voadeiras, ainda bem cedo da manhã do sábado, cursistas, colaboradores, visitantes, as equipes da cozinha e do apoio foram acolhidas com alegria fraterna. Em nome da coordenação do projeto, Aldenice e Aldineia Monteiro deram as boas-vindas aos participantes.

O articulador do projeto, professor Benedito Alcântara, ressaltou e agradeceu as instituições parceiras: Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA), Universidade Federal do Amapá, Pascom e IEAP. Em seguida conduziu em forma de ciranda o momento da mística no sábado e domingo, com a saudação à Mãe Terra, à água, ao ar, ao fogo, ao som do mantra: “Tudo está interligado, como se fôssemos um, tudo está interligado, nesta casa comum”.

A parte da programação sobre Educomunicação e bem viver provocou uma chuva de questionamentos e reflexões, motivando a juventude ribeirinha presente. As atividades grupais, dinâmicas, cantorias e exposições, com abordagem holística, não deixou dúvidas que há “uma única e complexa crise socioambiental” (LS 139). Confirma-se então que o clamor da Mãe Terra ressoa também a luta de suas gentes, em especial aos mais esquecidos e esquecidas pela sociedade e por representantes do Estado.

O jornalista Webert Elias, da equipe de comunicação social do OLMA, de Brasília, iniciou a interação sobre educomunicação. Ele socializou suas experiências a respeito das produções e publicações realizadas com jovens do sistema socioeducativo, que descobriram o poder de contar e divulgar suas histórias.

Apaixonado pela arte fotográfica, Webert também orientou uma oficina de fotografia. Junto com as e os guardiões criaram a exposição Preservando Memórias. Fotos em preto e branco que relembraram as conquistas e dificuldades do universo da escola ribeirinha, por exemplo, sobre o chegar à escola nos períodos de maré cheia e baixa. Também chamou a atenção um banner com fotos de lideranças ribeirinhas, professores, colaboradores do IEAP e do projeto Guardiões. O biólogo Marcelo Ferreira, natural de Rondônia, Mestre em Biodiversidade Tropical pela Unifap, e Doutorando em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) integrou o grupo da fotografia.

O professor da Unifap, Lincoln Noronha, além de acompanhar um grupo de estagiários dos cursos de Ciências Ambientais e Relações Internacionais, conversou com os guardiões sobre a importância da Educom na conscientização sobre Cidadania. Na dinâmica dos grupos, Noronha acompanhou a equipe que escolheu a produção de texto jornalístico. Na plenária, a notícia denunciou o descaso com a saúde na região das ilhas, que conta com mais de 100 comunidades e poucas Unidades Básicas de Saúde (UBS).

Vinícius Marques, jovem ribeirinho e seminarista diocesano, encantou todo mundo com a explanação e exposição sobre arte, cultura e linguagem nativa no cotidiano amazônico inspirada nas línguas indígenas. Desenhista e pintor nato, Vinícius, que nasceu e viveu no arquipélago do Bailique, na foz do Amazonas – Amapá. Ele inspirou o grupo das artes visuais que produziu uma verdadeira obra de arte retratando as belezas e desafios vida ribeirinha.

Acadêmicos e acadêmicas da Unifap, incluindo uma equipe que está na fase de conclusão do curso de jornalismo, acompanharam os grupos que demonstraram interesse em criar vídeo e podcast para denunciar os problemas enfrentados pela população ribeirinha, principalmente nas áreas da saúde e educação. “Não temos nenhuma escola pública de Ensino Médio aqui nas ilhas. Quando alguém conclui o Fundamental, tem que buscar uma escola pública do outro lado do rio, em Santana ou Macapá/AP”, afirmaram em alto e bom som.

A analista de sistema, Kátia Lima, do projeto Lixo Zero, de Macapá/AP, compartilhou com o grupo que topou pensar e produzir material para as redes sociais, que a juventude ribeirinha também acessa e faz suas publicações quando consegue conexão com a internet. A turma levantou ainda mais alto a reivindicação por mais educação e criou a #escoladeensinomedioribeirinho.

A socialização das produções dos grupos na linha da educomunicação ocorreu na manhã de domingo, 22, na abertura da Semana Laudato Si. O último grupo a fazer a apresentação foi o do teatro, que dramatizou e impactou o público presente com a triste realidade de muitas comunidades ribeirinhas, onde rios, igarapés, furos, canais estão virando verdadeiras lixeiras.

A arte-educadora Telmah de Oliveira, da rede pública de ensino do Amapá, que conduziu a comunicação humana no decorrer de todo o encontro, por meio de técnicas de relaxamento e atividades lúdicas, incentivou o grupo de teatro, que utilizou como cenário uma rede de pesca, e ao invés de peixes e alimentos, trouxe todo tipo de lixo que está poluindo as águas da região ribeirinha.

“Foram dois dias de conexões irradiadoras de vida, de escuta profunda e de alargamento de uma “consciência amorosa” (LS 220), no cuidado com a Casa Comum, entrelaçando e enredando os saberes e sentires do que expressamos como ecologia integral. Sim, os jovens guardiões ambientais ribeirinhos esparramaram, com a mesma força das marés e águas grandes em pleno maio amazônico, a poesia, a ternura e a ousadia das propostas e dos apelos da Encíclica Laudato Sí. Navegar é preciso!”, sintetiza Benedito Alcântara.

Fonte: Oscar Filho –Ascom/ Projeto Guardiões Ambientais Ribeirinhos com adaptações para OLMA.

Veja um pouco mais como foi: