Mesa ‘Mulheres dos povos tradicionais da Amazônia: Lutas e desafios’ durante a Semea 2019 Foto (Thiago Ventura/DomTotal)
Vozes femininas ganham mais espaço em suas comunidades onde papeis de destaque eram legados apenas a homens
Cássia Maia
Mulheres indígenas e quilombolas à frente de seus povos na luta por respeito, igualdade e políticas públicas estiveram reunidas no encerramento da 4ª Semana de Estudos Amazônicos (Semea), na manhã desta sexta-feira (1º), na Dom Helder Escola de Direito. O painel que as reuniu teve como tema “Mulheres dos povos tradicionais da Amazônia: Lutas e desafios”.
As convidadas para o painel foram Marcivâna Seteré Mawè, da Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime); Márcia Kambeba, poeta e geógrafa; Vivia Cardoso, presidente da Associação de Moradores e Produtores Quilombolas de Abacatal/Aurá (AMPQUA); Carla Cajuuna (Y apoti porã), da Associação de Moradores e Produtores Quilombolas de Abacatal/Aurá (AMPQUA); Elizabet Tikuna, da Associação de Artesão da Comunidade Tikuna de Bom Caminho (AM); Yashodhan, Kilombo Morada da Paz; Aramita Greff, psicóloga.
Para Márcia Kambeba, a luta da mulher indígena não é algo a parte da luta dos homens. “Todos nós lutamos dentro da nossa resistência e do nosso limite. A luta da mulher indígena não está em querer ser melhor ou pior que o homem. Nós não nos percebemos feministas e sim feminina. Não queremos ir nem à frente e nem atrás, a gente quer caminhar ao lado, segurar as mãos, lutar juntos mostrando que nós também podemos ser caciques, pajés, lideranças, mas queremos continuar sendo mães, continuar fazendo as mesmas coisas que faziam as nossas avós”, ressaltou.
Segundo a geógrafa, a resistência indígena nunca esteve tão ameaçada como nos dias de hoje. “É importante que nossa luta seja coletiva, que todos se entendam numa única finalidade. Precisamos aprender a viver na grande casa comum, que é a nossa terra, o nosso planeta”, destacou.
Amazônia
A presidente da AMPQUA, Vivia Cardoso, destaca que a Amazônia só vai sobreviver enquanto todos nós entendermos que devemos protegê-la. “A Amazônia é a vida e nós indígenas garantimos a vida nela. Quando nós respeitamos a natureza, estamos garantindo que ela viva por mais anos”.
Vivia diz que, para os povos amazônidas, a terra não é negócio. “A terra é mãe, é alimento, é sustento. Poluir, degradar, desmatar não é coisa dos povos tradicionais, porque vivemos e respeitamos a nossa terra, a Amazônia. Queremos que não só a universidade, o governo, mas que, de uma forma geral, isso seja observado. Não estamos ali porque alguém plantou a gente lá, nós somos a força de vida daquele lugar”, disse Vivia.
Carla Cajuuna ressaltou a importância do evento. “Estar aqui no Semea é um exercício de sentir a vida daquele que é diferente, é um exercício de sentir a vida que existe e que nós não percebemos por que, muitas veze,s estamos mais preocupados com os lugares de privilégios individuais. Enquanto estamos aqui hoje numa das faculdades mais importante do Brasil na área do Direito, muitas mulheres estão morrendo por femincídio, muitos jovens negros estão morrendo. Então, estamos em guerra porque temos corpos sendo tombados injustamente. Eu digo que estamos em guerra não para culpá-los, mas para responsabilizá-los, para evocar a força da paz, para que a gente entenda que sim, existe uma guerra, mas não é para a gente se amedrontar, mas evocar o ato de comunhão, de coragem”.
Dom Total: https://domtotal.com/noticia/1399695/2019/11/mulheres-destacam-sua-luta-de-resistencia-na-amazonia/
Relacionadas:
-
Feminismo indígena é resistência na defesa dos povos amazônicos
Marcivana Sateré-Mawé, da coordenação do Copime, fala sobre protagonismo da mulher indígena: https://domtotal.com/noticia/1398179/2019/10/feminismo-indigena-e-resistencia-na-defesa-dos-povos-e-culturas-amazonicas/