Rede de Promoção de Justiça Socioambiental no Simpósio sobre Juventudes, organizado pelo MAGIS

“ Entre os dias 11 a 13 de julho de 2019, aconteceu o III Simpósio Nacional “Aproximações com o mundo Juvenil”, organizado pelo MAGIS e demais instituições parceiras. A Rede de Promoção de Justiça Socioambiental esteve representada pelo Centro de Promoção dos Agentes de Transformação (CEPAT), veja o relato do evento:  



Relatos sobre o III Simpósio Nacional Aproximações com o Mundo Juvenil

Dos dias 11 a 13 de julho de 2019, aconteceu o III Simpósio Nacional “Aproximações com o mundo Juvenil”com o tema Jovens e Projeto de Vida: Subjetividade, Sofrimentos e Experiência Religiosa, realizado na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em Belo Horizonte (MG). O evento foi organizado pela Rede Brasileira de Institutos de Juventude, Centro MAGIS Anchietanum e pela FAJE.

O Simpósio reuniu cerca de 250 participantes, entre jovens, estudantes, pesquisadores, militantes, técnicos e professores.

Abaixo, seguem informações do III Simpósio Nacional que foram apresentadas no site do Magis Brasil e no Facebook da Especialização em Juventude no Mundo Contemporâneo, acrescidas de alguns pontos que chamaram a atenção.

No primeiro dia, fomos agraciados(as), no “Ato de Abertura”, com uma apresentação riquíssima da Orquestra Escola Criarte, formada por adolescentes e jovens da região de Venda Nova, Belo Horizonte, que nos tocou com músicas regionais de Minas Gerais e música popular brasileira.

Em seguida, a mesa de abertura trabalhou o tema A formação de jovens, pesquisadores e profissionais que atuam com jovens: balanço, desafios, temáticas e metodologias”, com a participação das pesquisadoras: Me. Martha Lucia Bonilla Gutierrez (Observatório da Juventude da Universidade Javeriana/Bogotá), Dra. Paloma Fontcuberta (Observatório da Juventude da Iberoamérica) e Me. Vanessa Correia (USP/Programa MAGIS Brasil/Rede Brasileira de Centros e Institutos de Juventude).

Trazendo panoramas de pesquisas do mundo juvenil realizadas em contextos latino e ibero-americanos e também experiências da atuação de observatórios, centros e institutos de juventude, com seus limites e potencialidades, todas as falas destacaram a necessidade de dar voz aos jovens, a fim de romper situações de desigualdade e colocá-los no centro da ação. O debate também trouxe ao centro as práticas pedagógicas libertadoras conduzidas pelos grupos pastorais e de iniciativas populares que antecedem o rigor acadêmico de práticas com as juventudes.

Na sequência, a Dra. Maria Rita Kehl abordou o tema Sofrimentos psíquicos de adolescentes e jovens: sintomas da cultura contemporânea. Fazendo uma análise da sociedade capitalista, a psicanalista indicou que a transição de uma fase de produção e sacrifício para uma fase de ênfase no consumo provocou profundas mudanças nas juventudes. Nesta fase que vivemos atualmente, onde o objeto de desejo é substituído pelo objeto de consumo, a experiência existencial da juventude fica reduzida.

Outro sintoma social se refere ao comportamento dos adultos, uma vez que o capitalismo vende o “ideário da juventude”, fazendo com que se parecer com o jovem se torne um objeto de consumo e prazer para o adulto. Nesse contexto, encontramos pais e mães que se perderam no referencial das experiências da vida adulta. Tais situações geram sofrimentos psíquicos e aumentam casos de depressão e suicídio entre os jovens.

Na mesa do dia 12 de julho, intitulada “A formação das subjetividades e a saúde mental de adolescentes e jovens na contemporaneidade” composta pela Dra. Nádia Laguárdia de Lima e a Dra. Cérise Alvarenga, foram abordadas algumas noções de adolescência e juventude, dando ênfase à necessidade de escuta e fortalecimento de vínculos. A Dra. Laguárdia refletiu sobre como a inserção no mundo adulto, nas sociedades modernas, surge como uma interrogação para a pessoa, já que a transição entre as fases não possui contornos explicitamente demarcados, conhecidos como ritos de passagem. Nesse sentido, cada adolescente precisa construir seus próprios ritos de passagem, pois não existe um modelo universal de adolescência. A subjetividade se constitui, portanto, a partir dos contextos sociais, políticos, culturais e familiares que cada pessoa está inserida. 

Dialogando com essa ideia, a Dra. Alvarenga aponta a influência desses contextos na construção daquilo que se entende como saúde ou doença mental e enfatiza a necessidade de se pensar a saúde coletiva, estando atentos aos modos de ser e fazer de cada jovem.

Para além disso, as duas convidadas apostam nos vínculos construídos a partir de relações de confiança, tendo a escuta como elemento chave na experiência com os jovens e ressaltam que o uso da medicalização deve ser, se necessário for, com diagnóstico e acompanhamento estratégico de especialista e de forma pontual.

Em seguida, a Dra. Lia Pappamikail, da Universidade de Lisboa, na mesa “Futuro incerto: as novas gerações diante do projeto de vida”, apresentou os dilemas e tensões causados nos jovens, em uma fase que muitas escolhas e decisões são exigidas, gerando sofrimentos psíquicos devido aos cenários de desigualdades. Também destacou que é importante levar em consideração que os jovens lidam com o futuro de diversas formas. 

Ainda nessa manhã, aconteceu o painel conduzido por Bianca Ferreira Rodrigues, que apresentou a experiência do programa “Já é” da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O programa realiza uma pesquisa transdisciplinar envolvendo conhecimentos de sociologia e psicanálise junto a jovens em conflito com a lei. Partilhando suas experiências com o projeto, a jovem destacou que a principal rede de saída desse contexto são as pessoas que apostam e confiam neles. O desafio é pensar como transportar isso para o contexto macro das políticas públicas.

No período da tarde, deu-se início aos grupos de trabalhos (GT´s), um espaço para que pesquisadores de juventudes, ligados à especialização ou não, pudessem compartilhar e discutir seus estudos e experiências.

Os GTs contaram com comunicações orais nos seguintes temas: Juventude e Experiências Religiosas, Saúde na Juventude, Juventude e Projeto de Vida, Participación, Agencia e Identidad Juvenil, Juventude e Processos Educativos e Juventude e Cultura Digital.

Finalizando o dia, entre os livros lançados em espaço reservado na programação do evento, em comemoração aos 20 anos da Especialização em juventude no mundo contemporâneo, foi lançado o livro Juventude no mundo contemporâneo: temas em debate”.

O livro reúne um conjunto de artigos de estudantes e professores que passaram pela pós-graduação. Os temas debatidos demonstram o caráter interdisciplinar do projeto, que possibilita abranger de forma bastante ampla as singularidades e os desafios que atingem a condição e a situação juvenil contemporâneas.

No dia 13 de julho, inicialmente, deu-se continuidade às apresentações das pesquisas nos grupos de trabalho. Na sequência, a mesa “Jovens, experiência religiosa e sentido de vida”, com o Dr. Geraldo Luiz De Mori e a Dra. Sílvia Regina Alves Fernandes, ofereceu diferentes visões acerca das experiências religiosas de jovens no Brasil e a relação das religiões com a busca pelo sentido da vida.

O Dr. De Mori destacou que essa busca faz parte da condição humana e que a religiosidade pode ou não ajudar o ser humano a encontrar o sentido da vida. Trazendo um ponto de vista da teologia cristã, lançou luzes sobre o tema partindo da exortação apostólica “Christus Vivit”. Além disso, salientou que existe uma pluralidade de mundos juvenis e, portanto, uma pluralidade de sentidos, o que não nos permite analisar as juventudes de modo abstrato. 

Já a Dra. Fernandes abordou a temática a partir dos conhecimentos das ciências sociais, apresentando dados quantitativos e qualitativos sobre como os jovens se relacionam ou não com as religiosidades. Expôs casos emblemáticos que ajudaram a
compreender essas relações e partilhou um dado relevante encontrado nas pesquisas que aponta para o crescimento de uma desinstitucionalização religiosa.

Ainda pela manhã, o painel “Experiências de jovens e profissionais na linha do projeto de vida” apresentou dois projetos: Brota e Janela da Escuta, ambos ligados à UFMG, que articulam ensino, pesquisa e extensão com os jovens através de diferentes oficinas culturais e artísticas e espaços de escuta dos anseios da juventude.

No período da tarde, foram oferecidos minicursos para aprofundar temas específicos das realidades juvenis e proporcionar um momento de troca. Os temas trabalhados foram: Sofrimento psíquico e a relação com o racismo e outros preconceitos, pelo Dr. Márcio Farias (PUC-SP); Projeto de vida e juventude, pela Dra. Liciana Caneschi (Especialização em Juventude/FAJE); Formação religiosa e saúde mental, pelo Ivan RodriguesProjetos de vida juvenis no centro da política pública de juventude, pela Me. Martha Lucía Gutiérrez Bonilla (Universidade Javeriana de Bogotá) e Ações coletivas juvenis: a dimensão educativa das organizações sociais, pelo Dr. Luís Antonio Groppo (Universidade Federal de Alfenas).

 

Por: Viviane Aparecida Ferreira de Lara Matos – CEPAT