STF retoma hoje [20/2/19] julgamento sobre criminalização da homofobia as 14h (Conheça detalhes sobre o tema)

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O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma hoje (20), a partir das 14h, o julgamento da ação protocolada pelo PPS para criminalizar a homofobia, que é caracterizada pelo preconceito contra o público LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais). Será a terceira sessão seguida para o julgamento da questão.

A análise começou na semana passada e foi suspensa após a primeira parte do voto do relator, ministro Celso de Mello. Até o momento, o ministro reconheceu a omissão do Congresso Nacional ao não criminalizar a homofobia desde a promulgação de Constituição, em 1988. A possibilidade de criminalização é debatida na Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) nº 26, protocolada em 2013.

Até o momento, Celso de Mello entendeu que há inércia do Congresso ao não aprovar uma lei para proteger a comunidade LGBT de agressões e preconceitos. Dessa forma, a Corte poderá conceder um prazo para o Congresso aprovar uma lei sobre a matéria.

Na sessão de hoje, após a parte final do voto do relator, devem votar o ministro Edson Fachin, relator de outra ação sobre o tema, além dos ministros Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio e o presidente, Dias Toffoli.

Julgamento

A partir da ação protocolada pelo PPS, os ministros devem definir se o Supremo pode criar regras temporárias para punir agressores do público LGBT, devido à falta de aprovação da matéria no Congresso Nacional.

Pelo atual ordenamento jurídico, a tipificação de crimes cabe ao Poder Legislativo, responsável pela criação das leis. O crime de homofobia não está tipificado na legislação penal brasileira.

No entendimento do PPS, a minoria LGBT deve ser incluída no conceito de “raça social”, e os agressores, punidos na forma do crime de racismo, cuja conduta é inafiançável e imprescritível. A pena varia entre um a cinco anos de reclusão, de acordo com a conduta.

Manifestações

No dia 13 de fevereiro, primeiro dia de julgamento, a sessão foi dedicada somente às sustentações orais das partes contrária e a favor do tema.

O primeiro advogado a sustentar foi Paulo Roberto Iotti Vechiatti, representante do PPS. Segundo o advogado, existe uma omissão do Congresso brasileiro em criminalizar os casos de agressões a homossexuais.

Em seguida, o advogado-geral da União (AGU), André Mendonça, reprovou qualquer tipo de conduta ilícita em relação à liberdade de orientação sexual, mas entendeu que o Judiciário não tem poderes legais para legislar sobre matéria penal, somente o Congresso.

O advogado Tiago Gomes Viana, representante do Grupo Gay da Bahia, disse que a criminalização da homofobia pelo STF é necessária porque todos os projetos favoráveis à comunidade LGBT que começam a tramitar no Congresso são barrados por parlamentares ligados à bancada evangélica.

Representante da Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure), o advogado Luigi Mateus Braga defendeu que o Congresso tenha a palavra final sobre o caso. Braga disse que a comunidade LGBT deve ter seus direitos protegidos, mas é preciso assegurar que religiosos não sejam punidos por pregaram os textos bíblicos.

Edição: Talita Cavalcante
Tags: stf Judiciário homofobia lgbt Criminalização da homofobia
De: http://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2019-02/stf-retoma-hoje-julgamento-sobre-criminalizacao-da-homofobia

 



 

Por que faz sentido criminalizar a homofobia e a transfobia?

O assunto divide opiniões há vários anos, mas segue sendo atualíssimo. E a gente precisa falar a respeito!

Onze anos atrás, em 2006, começava a pipocar na Câmara de Deputados um assunto até então pouco debatido: a necessidade penalizar atos homofóbicos com uma lei específica. O Projeto de Lei nº 122, popularmente chamado de PL da Homofobia (criado pela então deputada Iara Bernardi) passou anos dividindo opiniões e acabou sendo engavetado em 2013. Decidiu-se que essa medida só será revista quando o Código Penal for totalmente reformado, coisa que está bem longe de acontecer.

Há quem acredite que uma lei dessa natureza seja desnecessária, por uma série de razões. Inicialmente, quando pensamos em atos homofóbicos logo nos vem à cabeça a violência física. Nesse caso, já existem leis que penalizam homicídio e lesão corporal, então por que a lei deveria tratar as vítimas LGBT de maneira diferente?

“A questão não é que a gente não tem lei nenhuma para punir esse tipo de crime, temos sim. Homicídio por homofobia, por exemplo, é crime torpe [com motivo fútil, o que agrava a pena]. Mas nós precisamos dar esse passo [tipificar a homofobia na legislação] para que a gente possa se posicionar em relação aos crimes motivados pelo ódio“, aponta Marcelo Gallego, advogado que trabalha junto à Coordenação de Políticas para LGBT da Prefeitura de São Paulo.

E a violência física motivada por LGBTfobia – para usar um termo mais atual e amplo – ainda é um problema muito sério no Brasil. Segundo levantamento feito pelo Grupo Gay da Bahia em 2014, a cada 27 horas um brasileiro é morto por ser LGBT. Muita gente relativiza o problema, alegando que esse é um número irrisório frente ao total de homicídios que ocorrem diariamente no país. Acontece que precisamos ter em mente o seguinte: como qualquer pessoa, os LGBTs estão expostos à falta de segurança que, de fato, assola o Brasil, mas também correm o risco de serem feridos e mortos pelo simples fato de existirem e serem quem são. Para se ter uma ideia, o Brasil é líder mundial em número de assassinatos da população trans, segundo a ONG Transgender Europe.

Para além da aplicação de penas mais severas a quem agride e mata LGBTs motivado pelo ódio puro e simples, a criminalização da LGBTfobia também teria outro papel importante: coibir declarações com teor ofensivo. “O direito penal tem um efeito inibitório. Ainda que não seja amplo e absolutamente eficaz, ele pelo menos vai conter algumas coisas que hoje em dia se praticam sem freio algum. A gente vê esse discurso de ódio sendo proferidos com muita simplicidade. Então [a lei] tem esse efeito de desnaturalizar a violência, isso de achar que há uma permissão para esse tipo de violência. Não há! A pessoa ser do jeito que é não justifica esse ato [de ataque]”, diz a procuradora federal dos Direitos do Cidadão Deborah Duprat.

Então magicamente o ódio deixará de existir? Do dia para a noite as agressões, a discriminação e as ofensas farão parte do passado? Não. Mas, ao menos, uma lei contra a LGBTfobia marcaria o posicionamento do Estado contra a naturalização do ódio. Não é apenas sobre punição, é também sobre oficializar legislativamente que o ódio não será mais tolerado.

No mundo ideal isso nem precisaria ser debatido, mas a nossa sociedade ainda é assolada pela discriminação e, consequentemente, pela violência e pelo sofrimento que essa discriminação gera. “Enquanto essa conduta não for penalizada fica essa percepção de que se pode fazer isso sem maiores consequências”, acrescenta Duprat.

De: https://mdemulher.abril.com.br/estilo-de-vida/por-que-faz-sentido-criminalizar-a-homofobia-e-a-transfobia/