Comunidade acadêmica da UNISINOS participa da III SEMEA

Com o hino nacional sendo cantado na língua Tikuna, a maior população indígena brasileira, teve início nessa terça-feira, em São Leopoldo/RS, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos/UNISINOS, a 3ª Semana de Estudos Amazônicos/SEMEA. O evento, que pretende sensibilizar comunidades acadêmicas e sociedades civis não amazônicas para os principais temas de debate no universo amazônico, e assim garantir a participação, visibilidade e articulação de povos tradicionais amazônicos em espaços fora da Amazônia, é promovido pelo Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida/OLMA, Insituto Humanitas Unisinos/IHU, UNISINOS e Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM.

Na mesa de abertura da SEMEA, o Pe José Ivo Follmann, jesuíta, coordenador nacional do OLMA, acolheu os participantes da atividade e falou da importância do evento para a UNISINOS. “Hoje à tarde me chamou a atenção a discussão sobre o lugar de fala. Fiquei me perguntando: qual é o lugar da fala da universidade? Estava intimamente agradecendo o momento que estava podendo viver, porque era mais um dos momentos de resgate do verdadeiro lugar da fala da universidade que estava acontecendo, quando os muros de uma academia enclausurada são derrubados, quando outros territórios ganham lugar de fala, quando as salas de aula se tornam espaços de interlocução de história de vidas e saberes”, afirmou Pe. Ivo. E fez um apelo aos presentes no SEMEA: “Faço um apelo a todos os acadêmicos: que se deixem impregnar por todos esses saberes que estão se apresentando ao nosso meio. Não podemos deixar de ser melhores depois desses três dias que por aqui iremos passar juntos”, completou.

Padre David Romero, delegado para a Amazônia na Província Jesuíta do Brasil, também esteve na mesa de abertura e fez um retrospecto dos últimos eventos que têm trazido a Amazônia para o centro de discussões. “Estamos vivendo um momento de kairós na Amazônia”, afirmou Pe. David que destacou o Sínodo para a Amazônia como um evento significativo na Igreja para toda a Amazônia. Ele lembrou, também, a criação da REPAM em 2014 e o lançamento, em 2015, da Encíclica Laudato Si’.

 

Cenários e Desafios da Amazônia contemporânea

A primeira palestra da SEMEA trouxe para o debate os cenários e desafios da Amazônia contemporânea. O professor Dr. Ricardo Nogueira, da Universidade Estadual da Amazônia/UEA apresentou um itinerário de reflexão com questões que pode ajudar os participantes a entenderem pontos importantes da realidade da Amazônia. De acordo com Ricardo não se pode rotular, por exemplo, a população amazônica, dada a sua enorme diversidade. “Povos da floresta, povos tradicionais, ribeirinhos, caboclos… É complicado assimilar uma ou outra afirmação com exclusividade, por se tratar de uma diversidade enorme… tentar definir ou rotular quem está na Amazônia é uma tarefa um tanto difícil e complicada”, afirmou o professor.

Márcia Cambeba, indígena da etnia Tikuna, mestra em geografia, contribuiu na primeira palestra apresentando um pouco da realidade indígena e sua experiência de mulher indígena.

Empoderamento de mulheres dos Povos Tradicionais

Uma mesa com 5 mulheres indígenas e 1 quilombola apresentou as lutas, os desafios e os sonhos das mulheres dos povos tradicionais. Lideranças sociais, políticas e das próprias comunidades, as mulheres da mesa sensibilizaram os participantes com testemunhos e partilha das experiências.

Para Márcia Cambeba as mulheres estão se empoderando em todos os espaços e nos territórios indígenas não é diferente. Segundo Márcia é preciso compreender esse novo cenário. “Nós também somos território do sagrado. Vejo várias mulheres se empoderando nos espaços indígenas. As mulheres indígenas estão fazendo acontecer, estão sendo resistência”, concluiu.

De acordo com Sônia Guajajara, liderança indígena da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil/APIB, ainda que a atual conjuntura não seja tão favorável, as mulheres das comunidades tradicionais têm conseguido alcançar êxito em suas lutas e as eleições de 2018 atestam isso. “No meio a todo esse turbilhão estamos fazendo a nossa luta e colhendo frutos. Conseguimos pela primeira vez ter candidaturas indígenas registradas de forma articulada com o movimento indígena e o saldo são duas mulheres eleitas, uma em São Paulo, na Assembleia Legislativa, e outra em Roraima, na Câmara Federal”, destacou Sônia.