Decreto de Temer repercute no Vaticano: A Igreja Brasileira critica extinção da Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (Renca)

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/571079-decreto-de-temer-repercute-no-vaticano-a-igreja-brasileira-critica-extincao-da-reserva-nacional-de-cobre-e-seus-associados-renca

A decisão do governo “pegou de surpresa tanto a nós como ao povo brasileiro”. Assim se manifestou D. Flavio Giovenale, Arcebispo de Santarém, no Estado do Pará, onde se localiza a Reserva Biológica de Maicuru, uma das nove áreas que desde 23 de agosto já não recebem mais qualquer proteção por causa de um decreto do Governo Federal, assinado pelo presidente Michel Temer. Essencialmente, a medida extingue uma área protegida de 47 mil quilômetros quadrados (Renca), do tamanho da Dinamarca, entre os estados do Pará e do Amapá, dando sinal verde para a exploração do território.

“Há muitos anos – disse D. Giovenale – que a Amazônia é vista como um enorme repositório de riquezas e, ao mesmo tempo, há uma luta para reduzir as reservas indígenas e as reservas florestais onde estas riquezas estão”.

“Nunca havia acontecido, antes de hoje, a assinatura de um decreto para transferir do controle estatal para o privado 57 empresas”, enfatizou Dom Giovenale, segundo o qual “esta região foi uma das primeiras a serem criadas durante o período da ditadura militar e jamais se pensou que iria ser tocada”.

A reportagem é de Cristiane Murray e Massimiliano Menichetti, publicada por Rádio Vaticano, 25-08-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.

A Igreja local está na linha de frente na defesa do território e das minorias indígenas e agora está procurando – destaca o arcebispo de Santarém – “ter informações confiáveis para ver que medidas legais e também políticas podem ser encaminhadas a reverter essa decisão do governo”.

“O grupo econômico mais forte no parlamento brasileiro é o chamado grupo “BBB“: bíblia, boi e bala”. O bispo Giovenale reitera que “se juntaram os pentecostais de matriz neoprotestante, os grandes latifundiários da agropecuária, mas também da extração legal ou ilegal de madeira, e, por fim, o grupo da ‘bala’, isto é, aqueles que defendem a pena de morte e a propriedade privada, com confrontos e milícias armadas privadas “.

Nesse cenário já antecipou sua intenção de apelar para o Tribunal Federal o senador da Rede Sustentabilidade, Randolfe Rodrigues, que lidera a oposição ao decreto: “a extinção de Renca – declarou – ameaça reservas naturais e terras indígenas”.

Na mesma linha também se manifestou o diretor executivo da WWF Brasil, Maurício Voivodic, segundo o qual a liberalização da mineração pode causar impactos irreversíveis sobre o ambiente e os povos da região.