Conferência: Educação das relações étnico-raciais e diálogo inter-religioso

Relações étnico-raciais: Negritudes, Branquitudes e Branquidades

Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA) apoia e participa de Conferência sobre Educação das Relações Étnico-Raciais e Diálogo Inter – religioso, junto ao Núcleo de Estudos Afro-Indígenas (NEABI) da Unisinos.

Dia: 16/05/17

Horário: 19:30

Local: Auditório Central da Unisinos 

No campo das relações étnico-raciais, a sociedade brasileira está marcada por um profundo processo de branqueamento e de afirmação de sua euro-referência em detrimento das suas outras duas referências culturais de constituição de seus fundamentos socioculturais. É urgente que o Brasil passe a sua história a limpo para gerar um verdadeiro espírito republicano nas suas relações étnico-raciais. Temos certeza que a recente legislação que regula a “educação das relações étnico-raciais” e estabelece políticas afirmativas, na medida em que for efetivada conseguirá reverter ao menos em parte a euro-referência que nos marca, reabilitando a afro-referência e a nossa referência originária cultivada pelos povos indígenas ou grupos ameríndios. Trata-se da necessidade de uma educação para o cultivo de processos étnico-raciais de identidade.

 

Sabemos que a educação no Brasil foi sempre uma geradora e fortalecedora do branqueamento identitário, ou enfatizou as políticas de embranqueamento dos sujeitos de culturas diferenciadas. A professora Adevanir Aparecida Pinheiro[1] utiliza muito a analogia do “rolo compressor” mostrando como a sociedade “tida branca” veio abafando ao longo da história todas as iniciativas, contribuições e potencialidades da cultura negra e indígenas entre outras… Isto se expressa, sobretudo, através da educação que por sua vez também se tornou embranquecida e não diversificada. São verdadeiros massacres históricos e identitários que aconteceram e acontecem de forma sutil e quase invisível. É um processo de exclusão das culturas negras e indígenas e de retardamento dessas identidades, muitas vezes não percebido pelos próprios sujeitos envolvidos, tantos os “tidos brancos”, os negros e os indígenas. São massacres que ficam no rastro desse “rolo compressor”, que ainda hoje traumatiza e dilacera os diversos sujeitos em sua busca de sua história e identidade social e racial.

Além do “rolo compressor” as marcas de identidades mal formadas, ou mal interpretadas nos meios científicos, mostram também o teor das forças da branquidade que velozmente buscam encontrar saídas e reflexões de auto defesa no sentido de não ser tocado ou envolvidos nas temáticas culturais. Tanto para a população indígena, quanto para a população negra, a problemática torna-se cada vez mais desafiadora no cotidiano no sentido de terem sido excluídas de forma sorrateira, sobretudo, sendo desvinculada do centro da sociedade brasileira. De outro lado para a população branca, diante da sua alta proteção de um passado histórico pode ser um pesadelo pensar na inclusão do outro, sendo visto como algo desnecessário resgatar o contexto histórico e os processos de identidades dos diferentes, ou referencia lizar os estudos do continente africanos e da América Latina e os povos tradicionais como os ameríndios e quilombolas.

Os estudos e pesquisas têm nos mostrados que não pode se abrir mão de aprofundar os estudos e pesquisa voltada para a temática da branquitude normativa e branquidade, sobremaneira diante do contexto em que se encontra nosso país em termos de políticas e ações afirmativas. A ideia de branquidade provém de certo “autismo” étnico-racial, que se dá na situação em que os indivíduos ou grupos não conseguem mais enxergar o diferente, ou seja, os negros e indígenas, como um real interlocutor. É diferente de branquitude, que é o estado de espírito em que se dá o reconhecimento do diferente e existe postura de diálogo e interlocução.  (PINHEIRO, 2014).

 

A distinção entre branquidade e branquitude é uma forma didática que potencializam um debate importante e muito oportuno. É um debate que pode dar aos brancos a possibilidade de refletir sobre si mesmos e os outros como sempre costumaram tratar como objetos científicos e acadêmicos.

Referências

PINHEIRO, Adevanir Aparecida. O Espelho Quebrado da Branquidade; aspectos de um debate intelectual, acadêmico e militante. (Volume 1 da Coleção NEABI: refazendo laços e desatando nós). São Leopoldo: Ed. Casa Leiria, 2014, pp.23-54.

[1] Professora Doutora Adevanir Aparecida Pinheiro tem seus trabalhos de pesquisas e produção de conhecimento voltado para este tema na Universidade do Vale do Rio dos Sinos- Unisinos. Tem como referencias teóricos os pesquisadores da temática no Brasil a Dra. Maria Aparecida Bento coordenadora do CEERT em SP que resgata a importância deste estudo em tempos atuais e o autor e sociólogo Guerreiro Ramos que trabalhou além do tema a “patologia social do branco brasileiro”.