Comunicar-se na casa comum

A vegetação diferente em Roma (Pinus elliottii)

O mapeamento das experiências no Congo (Reseau Ecclesial Du Bassin Du Congo – REBAC) como outro bioma a ser preservado nos deixou despertos neste dia. Os esforços estão acontecendo também naquela região como na Amazônia. Lá como aqui, a exploração de ouro e diamantes parece ser a maior desgraça, porque deixa os rastros de devastação. Parece que as histórias das tragédias da colonização aparecem em todos os lugares. Devem ser contadas, cantadas e dançadas com os ritmos e as cores de cada etnia ou nação em formas de comunicação transformadora, para que não mais aconteçam. O ser humano tem que ser capaz de aprender e enxergar todos os seres humanos como irmãos, esse é o grande aprendizado deste Sínodo.

A tarde toda no auditório da Rádio Vaticano foi ocupada com um painel de jornalistas e especialistas em comunicação com a pergunta: Como comunicar a ecologia integral e os estilos de vida sustentáveis?

A vegetação diferente em Roma (Pinus elliottii)

Precisamos ser humildes neste caminho, pois as distorções de proporções são frequentes no nosso modo de perceber o que está em torno de nós. As chuvas acontecem tradicionalmente mais na linha do equador, mas também nestes lugares as pessoas têm menos acesso à água potável. Isso está relacionado com o material biodegradável pelas águas, algo que tem sua lógica própria. Por isso, nossas reflexões indicam que o material que está sendo usado, por exemplo, para construir nossas casas, precisa ser melhor pensado. As cidades são construídas em todas as partes do planeta usando materiais mais e menos duráveis. Mais sustentável é utilizar o que pode ser encontrado perto, pois gastamos muita energia levando materiais de um continente para o outro sem necessidade, como vemos os mármores, aqui em Roma.

Francisco Chagas (Apurinã), que plantou um pé de guaraná no jardim do Vaticano, voltou a falar que sua terra não está demarcada e, por isso, sofre com seu povo todo tipo de invasão: madeireiros, garimpeiros, caçadores etc. “Não temos mais como fazer nossas casas tradicionais, porque falta material. Trabalhamos com o guaraná que é nossa planta sagrada. Nós cuidamos da terra-mãe desde sempre, porque temos respeito. Para fazer roça, pedimos licença para a mãe-terra. Explicamos que vamos plantar banana, mandioca, milho para ter alimentos. Não tenham pena de nós, mas vejam como defender nossos direitos e da mãe-terra!” Depois dessa fala, fizemos um minuto de silêncio para conectarmos conosco mesmos, para ver o que devemos e podemos mudar na nossa vida.

Podemos trabalhar a favor da casa comum como bem viver para todos, usando as palavras mais adequadas. Como a atividade era sobre a comunicação, pensamos que, juntos, os jornalistas podem fazer algo melhor do que se faz hoje na Amazônia, focar a coleção de experiências das pessoas em suas práticas de vida sustentável, suas inspirações e memórias. As histórias de conflitos não atraem a imprensa, por isso os comunicadores precisam encontrar “novas histórias”, uma vez que tudo está conectado e a ecologia integral auxilia a termos inspirações espirituais para sermos melhores do que fomos ontem. O guaraná orgânico Urupadí, da Associação dos Agricultores Familiares do Alto Urupadí, cultivado e preparado de forma cooperativa em Maués é uma experiência que deve ser multiplicada.

Também foi mostrada a edição impressa do “Guia prático para jornalistas sobre estilos de vida sustentáveis. Com inspiração, dicas de escrita e ideias gráficas.” Em várias línguas, pode ser encontrado também em forma digital. Os cientistas estão dizendo a mesma coisa que os indígenas, mas de forma diferente. A biosfera é o “casaco da terra”, mas é frágil, tem grossura da casca de uma uva. A verdadeira magnitude de todos os seres na terra não é ainda conhecida. Os glóbulos vermelhos estariam na mesma proporção em relação ao nosso corpo, como nós, cerca de 7 bilhões de pessoas, estamos em relação com o planeta terra. Mas nosso poder de destruição é maior que qualquer vírus ou bactéria. A cada ano, destruímos 25 vezes mais que o espaço que ocupamos nesse planeta.

Os Guaranis, Chiquitanos, Ticunas e outros possuem mitos de dilúvios (histórias sagradas) para falar das formas como a natureza se utiliza para limpar a terra da nossa poluição. Quando ela se deita, a água inunda tudo e os peixes ou outros seres passam a ter mais domínio que nós. De certa forma, mantemos a memória celular desses acontecimentos pretéritos, pois somos seres relacionais e vibramos na mesma frequência que a natureza, pois tudo está interligado. Parece que esquecemos isso ao viver na cidade que não permite o contado com a mãe-terra. Como Deus “sujou as mãos” para criar o ser humano da terra, também temos que sujar as mãos e os pés para cultivá-la.

No final desse dia, fizemos um círculo para poder ver os rostos dos nossos irmãos e irmãs de forma mais pessoal e criar uma comunicação popular enquanto REPAM. A Rede Amazônica de Comunicação deseja fazer a experiência de ir além da denúncia para chegar ao anúncio da esperança de um mundo novo, outros mundos possíveis. Honorato Lopes Trindade (Sateré-Mawé) deixou uma mensagem final (ver vídeo) e cantou: A nossa vinda aqui / Junto dos vossos pés / Viemos pedir fortaleza a fé. / Nosso senhor São Pedro (bis)/ Abra a porta da tua casa / E faze-nos entrar / Junto comigo vem rezar. / Tu tendes chaves do céu (bis) / Contra as forças destas chaves / A porta do inferno nunca prevalecerá.